O sol despontava no horizonte. A névoa fria dissipara-se. Ermínia abriu os braços espreguiçando-se. Era hora de levantar. Tinha muitas coisas que fazer. Depois de arrumar a casa, teria de ir ao centro da cidade para comprar o seu tão sonhado sofá.
Levantou-se preguiçosamente, foi ao banheiro, escovou os dentes, lavou o rosto. Tomaria banho depois. Preparou seu café. Estava gostando de morar sozinha. Casar, não queria. Primeiro era arranjar-se na vida. Ainda era cedo para pensar nisso.
Tinha um ou outro pretendente, mas nada que de fato valesse a pena. Tinha sonhos ambiciosos. Queria ser alguém na vida, como seu pai sempre falava. — Filha, antes de qualquer coisa, seja alguém na vida.
Aquele sofá representava isso para ela. A ideia de que as coisas começavam a dar certo. Se tivesse um sofá, aquela sala deixaria de ser tão vazia. Poderia receber as pessoas. Chamaria sua mãe e seu pai para uma visita e oferecer-lhes-ia um café. Sentar-se-ia para assistir a um filme e até mesmo dar uma cochilada, por que, não?
Trabalhara duro durante seis meses juntando dinheiro para comprar aquele tão desejado objeto. Agora estava tão perto. Faltavam apenas algumas horas. Por isso estava ansiosa.
Terminou de limpar a casa às 12h. Tomou banho, arrumou-se. Comeria alguma coisa lá na cidade mesmo. Desceu a rua, pegou o ônibus. Não se aguentava de tanta euforia. Não via a hora.
Desceu no terminal de ônibus. Teria de caminhar uns dez minutos até chegar à loja. O coração estava acelerado, uma grande alegria tomou conta de seu ser. No dia anterior, enquanto ia para casa, passou em frente à loja e viu-o lá esperando-a e agora ele seria seu.
Entrou na loja e correu os olhos para vê-lo. Ei-lo ali no mesmo lugar. Ufa, não foi vendido ainda. Foi até onde ele estava. passou a não em um de seus braços. Sentou-se fazendo ar de satisfação. O vendedor veio atendê-la.
— Boa tarde. Posso ajudá-la?
— Eu quero levar este sofá.
— Perfeitamente, vamos ao atendimento, por favor.
Os trâmites foram feitos e ela comprou o tão sonhado sofá. Recebeu a promessa de que em três dias ele seria entregue. Voltou para casa realizada. Agora era apenas uma questão de tempo até que seu sofá chegasse.
Os dias foram passando e a expectativa aumentando. Ela já não aguentava mais de tanta ansiedade. No dia e hora marcados, a campainha tocou. era o pessoal da entrega.
Ela abriu a porta e dois homens, carregando o seu sofá, entraram. Eles desembalaram o produto e o colocaram no espaço que foi reservado para ele. Por estar feliz, agradeceu efusivamente aos trabalhadores a ponto de eles ficarem sem graça.
Eles saíram e ela trancou a porta. Agora o momento era só seu. Veio andando devagar, passou a mão no tecido, puxou o ar com força a fim de sentir o cheiro de coisa nova. Sentou-se e ficou alisando o estofamento. Agora sim. Era tudo o que queria.
Um mês depois, ela já não achava mais aquele sofá tudo aquilo. Era até meio pequeno. Devia ter comprado um maior. Pensava nisso enquanto estava no ônibus indo para casa. Olhou para a mesma loja e viu, no mesmo lugar, um outro sofá, maior, mais bonito, do jeitinho que ela queria. Desceu no primeiro ponto, voltou à loja. O mesmo vendedor veio atendê-la, já era sua cliente preferida.
Saiu da loja com o orçamento em mãos. Teria de apertar o cinto por uns oito meses. Esse era bem mais caro, mas maior e bem melhor. Chegou em casa, abriu a porta e deparou-se com aquele sofá feio, pequeno e desconfortável enfeiando sua tão preciosa sala.
Tirou o papel com o orçamento da bolsa. Pegou o celular e começou a olhar a foto que tinha tirado do sofá que vira na loja. Agora sim, poderia convidar as pessoas, chamaria seus pais, oferecer-lhes-ia um café, maratonaria uma série e quem sabe, poderia até cochilar no sofá.