quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Hospital

      

          Orlando abriu os olhos. Não reconheceu onde estava. Sua cabeça parecia que ia explodir, Olhou para os lados, era um hospital? O que estava fazendo ali?


Momentos depois a enfermeira entrou.
— Que bom que você acordou.

— Afinal de contas, onde estou e por que estou aqui?

— Quantas perguntas, por enquanto, apenas descanse. Você precisa se recuperar primeiro.

— O que aconteceu comigo? Por que eu estou aqui? Não me lembro de nada.

— No momento certo o médico virá para falar com você.

Ele ficou ali tentando imaginar o que havia acontecido. Realmente não se lembrava de nada. Procurou puxar pela memória e reconstituir seus últimos passos.

— Eu lembro que estava em casa deitado no sofá. Recebi uma ligação. — De quem era? — Não sei. Não lembro.

O tempo foi passando e nada do médico aparecer. Por fim, ao fim do dia, um plantonista veio ver como ele estava.

— Muito bem, vejo que você já está acordado. Está sentindo alguma coisa? Dói em algum lugar?

— Não, não sinto nada. Apenas não me recordo de nada. O que aconteceu.

— Olha, como sou novo aqui, não sei lhe dizer. No entanto, o médico que está acompanhando o seu caso, deve vir amanhã para vê-lo.

Orlando achou tudo aquilo muito estranho. Não estava entendendo nada. Por fim resignou-se. — Amanhã quando o médico vier, falo com ele.

A noite se arrastou monótona. O cheiro de hospital deixava-o enjoado. Ainda estava ligado a um monte de aparelhos e faltava-lhe forças para fazer o menor movimento na cama.

No dia seguinte, o médico encarregado de seu caso veio finalmente vê-lo.

— Bom dia, meu caro. Que bom que você acordou. Como está se sentindo?

— Estou bem, mas por que todo mundo me pergunta isso?

— É óbvio.

— Óbvio? Para quem? Eu nem sei por que estou aqui!

— Então quer dizer que você não se lembra de nada?

— Nada. A última coisa de que me lembro foi que recebi um telefonema e mais nada. Aliás, eu estou me sentindo muito fraco. Não consigo nem segurar um copo.

— Isso é normal. Em breve e com algumas sessões de fisioterapia, você recuperará a força nos membros.

— Normal? Como assim normal?

— Sim, é normal quando se fica muito tempo em coma. Depois que acorda, leva ainda um tempo até que se restabeleça por completo.

— Coma? Que coma?

— Você ficou em coma por dez anos.

— O quê? Como assim?

— Você sofreu um acidente. Foi atropelado quando estava no ponto de ônibus e foi trazido para cá em estado crítico, quase morreu, mas graças a Deus conseguimos salvá-lo.

— E a minha família?

— No começo, sua esposa vinha todos os dias, mas depois de um tempo, ela não veio mais.

— Quero falar com ela.

— Lamento, mas não conseguimos mais entrar em contato com ela. O número que ela deixou, não atende mais.

Quase seis meses se passaram até que finalmente Orlando recebeu alta. Tudo o que queria era ir embora para casa. Os funcionários do hospital fizeram uma vaquinha e conseguiram algum dinheiro para que ele pudesse ir para casa.

Orlando saiu do hospital vestindo roupas que havia ganhado, pois as suas estragaram. em si não havia nada que fosse seu anão ser o próprio corpo. Sentia como se sua vida tivesse acabado. Tudo estava bem diferente. Já não reconhecia os lugares, as ruas, as casas, era como um estrangeiro em sua própria terra.

Desceu na rua principal. Teria que andar mais uns dez minutos até chegar em sua casa.

Estranhou a rua. Algumas coisas já não eram mais como antes. A padaria havia fechado, o bar deu lugar a uma loja de roupas. Até asfalto e guia agora tinha.

Chegou em frente à sua casa, respirou fundo. A fachada estava diferente. O velho portão de ferro deu lugar a um automático de alumínio, No lugar do antigo Fiat 147 agora estava um veículo cuja marca e modelo ele desconhecia completamente.

Tocou a campainha. Prendeu a respiração. Uma voz feminina pediu que esperasse um momento. Instantes depois o portão social é destrancado.

— Maria, sou eu! Ele diz com uma voz embargada.

— Você… acordou?

— Sim, estou bem agora. Nossa, você está mais bonita agora, o cabelo bem cuidado a casa está bem conservada. Nossa!

— Quem está aí, amor? Uma voz masculina perguntou de dentro da casa.

— Ah, é apenas um andarilho pedindo um pouco de comida.

Essas palavras fizeram o coração de Orlando tremer. Uma triste realidade veio-lhe à mente. Perdera tudo.

— Quem é que está aí? Ele por fim pergunto, mesmo suspeitando saber a resposta.

— Ah… é… é… que passou muito tempo… os médicos disseram que você talvez nunca mais acordasse. Eu precisava continuar a minha vida, entende. As dívidas estavam se acumulando e eu estava desesperada. Espero que você entenda.

Um gosto amargo subiu pela garganta de Orlando. Não sabia o que dizer, nem o que falar.

— É eu sei.

Dizendo isso, saiu dali cabisbaixo e triste. Andou até o ponto de ônibus. Sentou-se e ficou olhando para o nada. De repente, começou a cair uma garoa fina e enjoada. Um sentimento de saudade e melancolia tomaram conta dele. Colocou as mãos na cabeça e começou a chorar. Se era para viver esse pesadelo, era melhor não ter acordado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário