quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Memórias capítulo IV

 O NOVO ATENDENTE







No dia seguinte, no horário marcado, Álisson já estava em frente à cafeteria aguardando para iniciar seu turno. Alice chegou pouco depois, logo em seguida, começaram os preparativos para mais um dia de trabalho. À primeira vista pareceu a Alice que o rapaz era bem empenhado, cumpria com esmero suas funções. Depois de tudo pronto, Alice colocou a placa de aberto e começaram a chegar os primeiros clientes da manhã. 

Ela confirmou suas suspeitas de que Álisson chamaria muita atenção principalmente das mulheres que frequentavam a cafeteria. Elas não tiravam os olhos dele e sempre o estavam chamando para pedir mais alguma coisa. Em contrapartida, os homens também não tiravam os olhos de Alice. De fato, uma dupla de sucesso. Como esperado, a clientela aumentou novamente. Aquelas moças que vieram no dia anterior, voltaram trazendo mais colegas. Álisson nunca tinha sido tão assediado em toda a sua vida. 

Enquanto ele estava limpando uma das mesas, quatro moças chegaram. Alguns instantes depois fizeram um sinal para que ele fosse atendê-las.

— Bom dia, o que vão querer hoje?

— Eu quero um capuccino e um pão de queijo.

— Eu vou querer um café com leite e também um pão de queijo.

— Já para mim, um café com leite e um pão na chapa.

— Eu vou querer um café puro e um pão na chapa.

— Um momento e eu já trago os seus pedidos.

Álisson anotou os pedidos na comanda e entregou-a à Aninha para que fizesse o preparo. Enquanto atendia outro grupo de pessoas, as quatro moças ficaram conversando e de vez em quando lançando olhares para ele.

— É um gato, né.

— Viu como estava cheiroso?

— E como.

— De perto ele é mais bonito ainda.

Enquanto isso, na outra mesa, rolava uma conversa um pouco diferente.

— A gerente da cafeteria é linda.

— Sou mais o atendente.

— Esse daí não tem nada de mais, mas a gerente, que mulher bonita.

— Já pensou se eles fossem casados? Como não seriam os filhos deles? 

Aninha chamou Álisson para entregar-lhe os pedidos da mesa quatro, aquela em que estavam as moças. Álisson levou os pedidos até a mesa delas.

— Aqui estão os seus pedidos, bom apetite.

— Muito obrigada, todas responderam, abrindo largos sorrisos.

Álisson deu uma piscadinha para elas e isso as deixou totalmente derretidas. 

Enquanto isso na fila do caixa, Alice recebia os pagamentos.

— Olá Sr Alberto, débito ou crédito.

— Débito.

— Aqui está, digite a senha por favor, obrigada e tenha um bom dia.

— Pode me passar sua comanda por favor?

— Aqui está o valor, débito ou crédito?

— Débito.

— Obrigada, tenha um bom dia.

— Olá Alice, tá bem movimentado por aqui esses dias,não?

— É verdade, não dá nem tempo de tomar água direito. A dona Fernanda está melhor?

— Sim, tomou os remédios e já está recuperada. 

— Mande lembranças a ela.

— Aqui está o seu troco, até mais.

— Até, bom trabalho.

Na cozinha não era diferente, a chapa estava com todas as bocas ligadas e João já estava todo suado por causa da temperatura e da correria. 

— João mais dois pães na chapa, um misto quente, dois queijos quentes e três baurus.

— Aninha avisa pra Alice que o pão está acabando e também vou precisar de mais queijo.

— Alice, o João pediu pra mandar mais pão e queijo.

— Pode deixar, vou ligar agora mesmo para o Sr Firmino para que ele me traga mais.

— Aninha, tem salgados suficientes?

— Para hoje sim, mas se vier mais gente do que o de costume vai faltar.

— Ok, vou pedir mais ao Sr Adelson.

Dez minutos depois, o Sr Firmino chegava com os pães e o queijo.

— Bom dia Alice, já acabou todo aquele pão?

— Sim, o movimento está bombando hoje.

— Que maravilha, realmente está bem cheio aqui.

— Aqui está o pagamento, muito obrigada por me atender tão rápido.

— O que um velho como eu não faz por uma moça tão bonita como você, minha cara, disse isso dando uma piscadinha para Alice.

— Sempre galanteador, não é? O que será que a Dona Marta vai achar disso?

— Nem brinque, serei um velho morto e deu risada.

Alice levava numa boa as brincadeiras do Sr Firmino, pois ele brincava assim com todos. Até Álisson foi alvo das brincadeiras dele. A primeira vez que o Sr Firmino o viu foi logo dizendo, rapaz, seu eu fosse mais novo ia te pedir em namoro, eita cabra bonito e deu risada. Álisson não sabia onde enfiar a cara, pois os clientes que ouviram também caíram na risada. Por fim, Alice disse a ele que o Sr Firmino era uma pessoa muito brincalhona e que ele não devia levar a sério o que ele dizia. A partir daí, toda vez que o Sr Firmino via o Álisson, chamava-o de chuchu fazendo graça para o provocar.

A correria continuava na cafeteria. 

— Aninha, pedido das mesas sete, oito e cinco.

— Ok, só um instante. 

— João, mais dois queijos quentes. Ah, tá acabando o pão de queijo, coloca mais um pouco pra assar.

— Aqui estão os pães na chapa que você pediu.

— Álisson, os pedidos das mesas dois, três e onze estão prontos.

— Obrigado, pode deixar que eu já levo.

— Aqui estão os seus pedidos, bom apetite.

Já estava se aproximando a hora do almoço e Alice ligou para Dona Lourdes mandar alguém para ajudá-los, pois pressentia que o movimento naquele dia seria grande. Dez minutos depois a própria Dona Lourdes chegou para ajudá-los. Ela se espantou com a quantidade de pessoas que estavam na cafeteria.

Começou o almoço e a correria dobrou. Aninha foi ajudar Álisson a servir as mesas e Alice passou a atender ao balcão, Dona Lourdes atendia ao caixa e ajudava ao João na cozinha.

— João, dois sanduíches de peito de peru com ricota, dois pães franceses recheados.

— Alice, dois sucos de laranja, um de maracujá e mais dois de abacaxi com menta.

— Aninha aqui está o pedido da mesa três.

— Álisson, esse suco é para a mesa cinco. 

— Dona Lourdes, vem atender o caixa.

— Um minuto, por favor, que ela já vem. 

— Aqui está o seu troco, tenha uma boa tarde.

— João mais dois sanduíches de frango e um de tofu.

— Aqui está o seu comprovante, tenha uma boa tarde.

— Alice, mais dois pedaços de torta, por favor. 

— Aqui, Álisson, dois refrigerantes e dois pedaços de torta para a mesa nove.

— Alice, três pedaços de pudim.

— Estão saindo.

— Tres fatias de pudim para a mesa doze.

A correria foi assim até às três da tarde. Quando o expediente acabou, todos estavam cansados. A cafeteria nunca tinha vendido tanto. Alice conversou com Dona Lourdes sobre a possibilidade de contratarem duas pessoas para trabalharem meio período, já que a partir das quatro da tarde, o movimento era mais ameno. Uma para auxiliar João na cozinha e outra para atender às mesas.

Dona Lourdes concordou de pronto, mesmo porque não poderia vir ajudar todos os dias por causa do Resort. Também não tinha pessoal disponível que pudesse ceder nos horários de pico.

Uma nova placa foi colocada e mais um processo seletivo começou. Dois dias depois, Alice começou as entrevistas depois das quatro da tarde, eram tantos candidatos que às oito da noite ainda não havia terminado de entrevistar todos eles. Levou mais três dias de entrevistas até que todos os que tinham sido pré-selecionados foram finalmente entrevistados.

Por fim, em reunião com Dona Lourdes, decidiu-se. Contratou um rapaz que já tinha trabalhado em uma padaria para ajudar o João na cozinha e uma moça para atender às mesas junto com Álisson.

Ele, magro, lá pelos seus 22 anos, estatura mediana, olhos pretos, cabelos pretos ondulados, pele morena clara, nariz mediano, sobrancelhas também medianas, olhos castanhos escuros, seu nome Gabriel. Ela, magra, lá pelos seus 20 anos, estatura mediana, cabelos lisos, curtos e pretos à altura dos ombros, olhos castanhos, sobrancelhas bem torneadas, lábios finos, seu nome, Isabela.  

Agora a equipe estava completa. Uma semana depois, os dois novos funcionários estavam bem adaptados ao ritmo de trabalho da cafeteria. Alice acertou em cheio quando previu que o movimento seria intenso a partir daquele momento. Se Dona Lourdes não tivesse contratado os dois novos funcionários, eles teriam comprometido a qualidade do atendimento do qual ela tanto se orgulhava.

— Sejam bem vindos, o que vão pedir hoje?

— João mais dois queijos quentes, por favor.

— Saindo o suco de melancia e o de abacaxi.

— Aqui está o seu troco, obrigada, volte sempre!

— Saindo o pedido das mesas sete e nove.

— O que vão pedir hoje?

— Dois  lanches naturais e dois sucos de acerola.

— Débito ou crédito?

— Aqui está o seu pedido, bom apetite.

— Isabela, aqui estão os pedidos das mesas três, oito e dois.

— O que vão pedir hoje?

— Saindo dois lanches naturais para a mesa doze!

— Gabriel, corte aqueles tomates que já estão lavados e prepare duas saladas completas!

— Débito ou crédito?

— Aqui está a sua comanda.

— Mais dois lanches naturais para a mesa cinco!

— João, vamos precisar de mais salgados daqui a pouco! 

— Dois sucos de abacaxi para a mesa sete!

— Seu troco, obrigada e tenha um bom dia.

— Débito ou crédito?

— Dois sucos de morango para a mesa doze!

— Aqui está o seu pedido, bom apetite.

E assim os dias iam passando, algumas vezes bem tranquilos outros na maior correria. Não demorou muito para que Gabriel e Isabela estivessem totalmente adaptados ao ritmo da cafeteria.

Um certo dia logo de manhã, entrou um cliente que fez com que Alice tivesse a impressão de o conhecer. O homem estava trajando terno e portava uma maleta, daquelas que carregam documentos. Sentou-se a um canto e fez sinal ao atendente. 

— Pois não,em que posso servi-lo?

— Bom dia, eu quero um café puro e um pedaço de torta, por favor.

— Um momento que eu já trago.

Foi até o balcão e passou o pedido para a Aninha.

Quando o pedido estava pronto, Alice fez questão de levar ao cliente. Álisson estranhou aquilo, pois não era usual que ela servisse às mesas.

— Aqui está o seu pedido.

— Muito obrigado.

— Posso te fazer uma pergunta, um tanto pessoal?

— Claro, fique à vontade, o que gostaria de saber?

— Por acaso você já morou em Aishe?

— Sim, já morei sim. Ficou tão evidente assim? Ele perguntou em tom de brincadeira.

— Ah, não, não é isso! É que eu conheci uma pessoa lá que se parece muito com você.

— É mesmo? Que coincidência, não é? E onde vocês se conheceram? Pode ser que eu o conheça, disse.

— Ele se chama William, e chegou a ser meu par por um momento em uma quadrilha na comunidade de jovens que havia na igreja matriz da cidade.

— Realmente esse mundo é muito pequeno! Eu me chamo William e também dancei quadrilha quando era adolescente na igreja matriz da cidade. Como você se chama?

— Alice! Lembra-se de mim?

— Claro, você é a garota que seria o meu par naquele dia, mas nós acabamos trocando de pares, não foi?

— Sim, realmente sou eu mesma, incrível encontrar com alguém de lá assim tão casualmente, disse isso e sorriu.

— Eu a vi algumas vezes junto com o garoto com quem você fez par na comunidade de jovens.

— Sinceramente, eu não me recordo de algumas coisas daquela época porque faz um bom tempo já. E você, está só de passagem?

— Estou indo a um congresso de Literatura em Ville e parei aqui para tomar um café e esticar as pernas um pouco.

— Que bacana, então você seguiu a área da docência?

— Sim, no entanto, agora sou reitor da Universidade federal de Isla. E você? Faz tempo que trabalha aqui?

— Não muito, mudei-me para cá e estou amando o lugar.

— Realmente, pelo pouco que vi parece ser um lugar muito bom para se morar. Quem sabe, um dia passo por aqui novamente para curtir a praia, ele disse olhando para o lado de fora da cafeteria.

— Sei que vai gostar muito, a areia é bem fofinha e clara, e a água é bem cristalina. O melhor lugar para descansar.

Alice deixou o cliente terminar seu café e foi atender um cliente que estava no balcão. Enquanto ela estava lá, depois de terminar seu café, William dirigiu-se ao caixa para pagar sua conta.

— Foi muito bom reencontrá-la depois de tanto tempo, mas  preciso seguir viagem. O café daqui é muito bom, parabéns!

— Também gostei de revê-lo, desejo-lhe sucesso em seu congresso. 

William pagou sua despesa e partiu depois de se despedir dela.

— Quem era aquele? Dona Lourdes que estava chegando perguntou a Alice.

— Um conhecido da cidade de onde eu passei os melhores anos da minha vida, disse isso com uma sensação boa de saudade. 

  


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